domingo, 23 de março de 2008

Fichamento do Texto: Os Fascismos

Introdução:
Os regimes de extrema direita, denominados fascismos, que vigoraram em diversos países do mundo no cenário de pós I Guerra Mundial, e que tiveram no Nazismo alemão o seu principal expoente, não podem ser tratados como movimentos mortos e pertencentes a um passado histórico enterrado.
Em função da abertura de arquivos referentes ao tema, cerrados desde o fim do segundo conflito mundial que provoca novas discussões acerca do tema, tem-se paralelamente o ressurgimento dos fascismos como um fenômeno de massa da sociedade contemporânea. Mesmos dispostos com uma nova roupagem têm como alvos principalmente estrangeiros que vivem num outro país (xenofobia), homossexuais e negros, muito embora não deixem de ultrajar sinagogas e locais de memória do Holocausto.
História e Política: O Labirinto Historiográfico do Fascismo
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a vitória dos Aliados sobre o Eixo com a conseqüente queda dos regimes fascistas, iniciaram-se estudos para esclarecer a natureza dos diversos fascismos na Europa de forma a estabelecer as devidas punições a essas nações. No entanto, diante de um cenário devastador de pós-guerra e de total descrença na democracia liberal, não se podia impor sanções pesadas a esses países de modo a não favorecer a sovietização dos países em questão repletos de fortes partidos comunistas, já numa conjuntura antagônica existente durante a Guerra Fria. Exemplos disso são o reduzido número de nazistas condenados na Alemanha e o período salazarista em Portugal.
Como afirma Wolfang Scheider na página 118, “se reconhece como fascistas movimentos nacionalistas extremistas de estrutura hierárquica e autoritária e de ideologia antiliberal, antidemocrática e anti-socialista que fundaram ou intentaram fundar, após a Primeira Guerra Mundial, regimes estatais autoritários característicos do entreguerras”. Ainda inseri-se o fascismo numa cadeia de acontecimentos marcados pela unificação alemã, o Resiorgimento italiano, a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes e a Depressão de 1929, como causas para o surgimento do movimento.
Como aspecto intrínseco do fascismo é a denominação de um Estado Totalitário cujas principais características são a presença de um forte aparato político, aí englobando partido político, forças armadas, polícia secreta, etc; liderança inconteste de um grande líder; e ausência de participação política das chamadas massas populares que são em geral facilmente manipuladas e mobilizadas pelo líder.
Fascismos: Em Busca de um Modelo de Análise
Erroneamente diversos historiadores restringem o fascismo exclusivamente ao caso alemão, o que dá a idéia de ele fazer parte unicamente da historia alemã, no entanto, cada regime fascista tinha suas especificidades nacionais e histórias particulares, mas faziam parte de um amplo universo com características semelhantes. Que cada regime fascista era diferente um do outro é notório, mas pode-se inclusive, intentar uma classificação, falando de um modelo padrão (Itália), um radical (Alemanha) e outras variações intermediárias.
Cada um tinha sua originalidade e características próprias. Baseadas na história nacional de cada país havia sempre a busca por raízes nacionais e raciais buscando a autenticidade do movimento e, dessa maneira construído sob um solo e com sangue próprios seriam Estados Nacionais inigualáveis, no entanto partilhavam uma mesma concepção de mundo, utilizavam-se da manipulação de massas, possuíam o mesmo ódio pelo liberalismo e socialismo e perseguiam minorias como judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e deficientes físicos e mentais, sempre ligados a um ideal de criação de uma raça perfeita, muito marcante no projeto eugênico ariano na Alemanha.
Os Elementos Constitutivos: Em Busca de uma Fenomenologia do Fascismo
1. O antiliberalismo e antiparlamentarismo fascista
Acusado de originar a crise contemporânea da época, a antiliberalismo acoplado ao antiparlamentarismo era repudiado pelos Estados fascistas. Frutos da Revolução Francesa do século XVIII eram vistos como desagregadores, semeadores da discórdia e incapazes de manter a coesão nacional e o senso de sociedade, uma vez que prezavam o individualismo. Os partidos políticos agrupariam interesses setoriais e promoveriam a fragmentação da nação a partir das disputas e conflitos de interesses, enquanto a democracia, acusada de estar ao lado das grandes finanças, corroboraria o rompimento da unidade do povo. Para os representantes fascistas era necessário um Estado forte e dominador, que impedisse o conflito social interno e fortalecesse o país externamente.
2. O Estado orgânico e liderança carismática
É nesse contexto de restauração da identidade nacional dilaceradas pelas lutas liberais que surge a figura do líder como um interprete e a encarnação da comunidade popular. Possuidor de uma personalidade autoritária e carismática, o líder tinha poderes ilimitados e desregrados por qualquer dispositivo legal, e dessa forma garante a unidade entre o povo e o Estado.
O regime de partido único, evidentemente do qual pertencia o líder, também esteve presente nos Estados fascistas. Impedindo e punindo qualquer forma de oposição, erradicava-se a luta partidária e qualquer possibilidade de discussão e debates relacionadas à nação. Objetivando formar um Estado integrador e autoritário social e economicamente, inclusive com a intromissão do Estado na vida particular do cidadão, e dessa forma garantir a existência da comunidade nacional, entra em pauta, na Alemanha, a conquista do Lebensraum, do espaço vital capaz de garantir a existência da raça superior e o desenvolvimento do país.
3. Comunidade do povoe a sociedade corporativa: o fascismo enquanto revolução
O ódio demasiado pelos judeus talvez possa ser considerada a característica mais marcante e comum aos regimes fascistas, seja alemão ou romeno. Os judeus considerados como estrangeiros eram identificados com o capitalismo, como grandes comerciantes e empresários, acusados de roubar o espaço dos nativos na economia, e ao mesmo tempo ao socialismo em função de seus valores, os judeus ainda chegaram a ocupar cargos de alto escalão durante a República de Weimar.
No que tange a economia, esta deveria ser administrada pelo Estado, de modo a ser organizada e popular. Por isso, o fascismo propunha o corporativismo, uma união dos interesses e a relação direta entre empregadores e trabalhadores (capital e trabalho), supraclassista a acima dos interesses privados e partidários. As crises econômicas pelas quais passaram países fascistizados, como Alemanha e Itália, abriram espaço para essa economia administrada pelo Estado, garantindo um sistema anticrise e uma intervenção na política econômica, presente também em regimes socialistas e nos governos keynesianos. É importante destacar que o próprio fascismo se define como socialista uma vez que se define defensor do bem-estar coletivo, solidário e harmônico e a favor da união trabalho e capital.
4. A destruição do eu e a negação do outro
A política de extermínio fascista baseia-se nas bases das diferenças, ou seja, as diversidades étnicas e partidárias devem desaparecer em prol de interesses como nação e raça. Os alvos como ciganos, judeus e gays por terem laços de cumplicidade e solidariedade são vítimas diante de algozes que tem frieza e falta de amor. É nessa política de limpeza étnica, que se cria a concepção de um novo homem, viril, esportista, saudável e que exaltava o companheirismo. As fazendas de reprodução visando a reprodução seletiva de arianos puros e primorosos, por isso a eliminação em massa de gays e deficientes físicos e mentais, em prol da raça perfeita.
Em Direção a uma Teoria do Fascismo:
Críticos ferrenhos da modernidade, mas não pelas inovações tecnológicas, e sim por ser acusada de romper com os laços de sociedade, do liberalismo – aí incluindo o grande capital, da democracia e do socialismo, o fascismo sempre representado na figura de um líder autoritário se utilizou de medidas desumanas a fim de intentar seus objetivos doentios. Encarado com diversas facetas e em muitos lugares desde Alemanha e Itália até Hungria e Eslováquia, passando por Portugal, Romênia e Espanha.
Seus objetivos maiores eram salvar o coletivo, a comunidade da aniquilação ante o outro, o estranho, o estrangeiro e assumindo dessa forma, um caráter defensivo, e limpar o país dos antinacionais era um alvo para a realização do ódio e visava restabelecer uma ordem voltada ao passado, sendo importante lembrar que não é um fenômeno puramente histórico, mas sim, muito presente nos dias de hoje.