domingo, 4 de maio de 2008

Fichamento do Capítulo "Contra o Inimigo Comum" do livro Era dos Extremos

I
Uma situação histórica excepcional tomou conta das relações internacionais durante anos da Segunda Guerra Mundial. Estados Unidos e União Soviética, reconhecida pelos americanos apenas recentemente em 1939, uniram suas forças contra um inimigo comum, a Alemanha de Hitler. Essa união anômala se deu por que lutavam contra um Estado cujas ambições e política eram perigosamente movidos por sua ideologia, a fascista. È bom que se destaque que essa junção teve a duração do conflito mundial, quando após o seu término, essas nações tornam-se novamente, inimigos ideológicos, dando início à Guerra Fria;
Durante a década de 30, as divisões internas em cada país, tomaram propensões mundiais. Ainda não eram as dissensões entre comunistas e capitalistas que tanto abalaram o mundo, mas entre os descendentes do Iluminismo e das grandes revoluções do século XVIII, incluindo então, comunistas e capitalistas contra os fascistas. Tratou-se de uma guerra civil ideológica cujas linhas divisórias da maioria dos países ocidentais tomaram um caráter internacional.
Na verdade houve uma tripla mobilização política contra o fascismo, mais precisamente contra o alemão, sendo unidos por esse interesse comum. Um apelo por uma política de resistência e governos dispostos a executá-las. Em teoria a junção de liberais, socialistas e comunistas era mais fácil, pois o fascismo os via publicamente como inimigos a serem igualmente destruídos. No entanto, apenas as circunstancias de guerra, a efetivaram.
Com a esquerda crescendo na opinião pública de vários países ocidentais, o que não acontecia com a direita em crise junto com a democracia liberal, deu a entender que uma aliança contra Hitler mais cedo ou mais tarde ocorreria. Enquanto isso, o füher já colocava em prática as hostilidades nazistas, expurgando judeus das universidades, queimando seus livros e reduzindo-os a uma subclasse sem segregada e sem direitos.

II
Inglaterra e França estavam traumatizadas com a derrota e os custos financeiros e humanos oriundos da Primeira Guerra Mundial, por terem travado uma guerra além de suas capacidades financeiras, suas economias estavam arrasadas, e pelo impacto do conflito sem precedentes para a população civil e militar. Eram feridas abertas e ainda sentidas por governantes e sociedade em geral.
Cientes de que lutar contra o fascismo significava uma guerra inevitável, adiaram o máximo que conseguiram a declaração de guerra à Alemanha. Nenhuma das duas tinha algo a ganhar com a guerra, mas sim a perder. Diante disso, uma França dilacerada e uma Inglaterra, que além de tudo sem estratégias combativas em função de uma marinha incapacitada, poria em risco seu império colonial, foi estabelecida uma política de apaziguamento. Uma tentativa desesperada em adiar o conflito iminente. Foi uma política de negociação com a Alemanha para estabelecer um padrão europeu pacífico mais durável, significando fazer concessões ao crescente poder da Alemanha. Contudo negociações eram impossíveis com Hitler, porque os objetivos políticos do nacional-socialismo eram irracionais e ilimitados. Expansão e agressão faziam parte do sistema, e, a menos que se aceitasse a dominação alemã, não resistindo ao avanço nazista, à guerra era inevitável.
Depois de esperar por uma guerra germano-soviética, e dessa maneira ver destruído seus dois inimigos por parte dos britânicos e após iniciais tentativas sem sucesso de um complô com os britânicos da parte de Stálin, este aliançou-se com os alemães justamente como uma tentativa de manter-se neutro e protegido e ainda por cima, ganhando alguns territórios do leste do continente e esperando também por um conflito entre britânicos e alemães.
Stálin manteve seu pacto até Hitler desfazê-lo, no entanto, a Inglaterra, em algum momento teria que deixar de lado seu camarote de apaziguamento para entrar em ação visando sua defesa e soberania. A Conferência de Munique em 1939, onde foi “autorizada” a invasão da Tchecoslováquia pela Alemanha, a grande vergonha do medo do britânico, foi à última esperança desesperada para satisfazer Hitler. Mesmo quando a Alemanha invade a Polônia, a própria Inglaterra ainda tentaria um acordo diplomático, mas a política de Hitler impossibilitara o apaziguamento e mesmo contrariando suas vontades, os estadistas de Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha.

III
As disputas da década de 30, travadas dentro dos Estados e/ou entre eles, eram, portanto transnacionais. Em nenhuma parte isso foi tão evidente quanto na Guerra Civil Espanhola de 1936-1939, tornando-se exemplar do confronto global.
Embora não possa ser considerada um primeiro estágio da Segunda Guerra Mundial, e a vitória do general Franco, que não pode ser descrito como fascista, não tenha tido conseqüências globais, a Guerra Civil Espanhola foi um espelho do que acontecia na Europa. Retratou o apaziguamento e o não intervencionismo de Inglaterra e França, reafirmou o poderio bélico e militar e a ascensão dos fascistas com a participação de Alemanha e Itália ao lado da Falange, apoiando o golpe militar em cima do governo constitucional e corroborou o espírito combativo da URSS.
Uma característica outra que deu um internacionalismo a Guerra Civil Espanhola foi a combatividade de homens oriundos de diversas nações. De um lado, fascista e de outros um exército, inclusive amador, de comunistas que lutaram ao lado de governo republicano e liberal contra os insurgentes generais, defendo uma ideologia e dispostos a dar a vida por ela.

IV
A Guerra Civil Espanhola antecipou e moldou as forças que depois de destruírem Franco, fariam o mesmo com o fascismo durante o posterior conflito mundial. Adiantou a aliança de frentes nacionais que poria de lado suas divergências ideológicas em prol da derrubada do objetivo comum, a derrocada também em comum do inimigo fascista. E na verdade, o conflito espanhol, transformou a espantosa unidade de opostos em realidade, Roosevelt e Stálin, Churchill e os socialistas britânicos, De Gaulle e os comunistas franceses, contribuindo para um relaxamento das hostilidades mútuas, tornando a união mais fácil e bem sucedida
A Segunda Guerra Mundial seria uma vitória por uma sociedade melhor, uma regeneração social, e não somente uma vitória militar, embora essa também se mostrasse bastante importante ao fim do combate. Houve um comprometimento por parte dos governos liberal-democráticos como o de Winston Churchill com um Estado de Bem-estar e com o pleno emprego. Introduziram-se reformas sociais e econômicas, não só, mas também pelo temor a revolução. No geral era a guerra anti-fascista sendo conduzida suavemente a tendências esquerdistas. Nos países da parte centro-oriental uma nova democracia fora instalada, acima de tudo anti-fascistas, mas já sendo o início de uma irradiação comunista.

V
Embora a linha Comintern tenha falhado e sido retirada da pauta dos planos anti-fascista de Stálin, em 1941 quando a Alemanha invadiu a URSS, essa lógica acabou por se impor novamente e agora mais ampla do que nunca. A entrada dos soviéticos e a dos Estados Unidos efetivamente na guerra contra o fascismo tornou-a numa luta global, tão política quanto militar e atingindo uma aliança entre o capitalismo dos EUA e o comunismo da URSS.
Essa luta agora de “igual pra igual” contra o fascismo fora ampliada por todo o continente europeu para aqueles dispostos a reunir esforços para resistir à Alemanha e Itália. No entanto toda essa Europa beligerante estava ocupada pelas potências do Eixo, a exceção apenas da Grã-Bretanha, por isso no restante das nações européias essa luta foi uma guerra de resistentes, uma guerra de civis ou de forças armadas de ex-civis não reconhecidas pelos exércitos, uma luta de partisans.
O exemplo clássico, embora não único, dessa resistência européia fora o caso francês, onde na França livre, de Vichy, o general De Gaulle liderou o que restava do país, que mesmo limitada e com pouco apoio popular, resistiu aos alemães e sob sua tutela fora reorganizada após a capitulação da Alemanha.
A resistência pendia sua política obviamente para a esquerda, e destaca-se a extraordinária participação dos comunistas nesse tipo de movimento, conquistando espantoso avanço político durante a guerra e alcançando grande papel na política após o conflito, como na Dinamarca e na Bélgica onde alcançaram expressivas votações se comparadas ao período entre guerras, na França surgindo como o maior partido nas eleições de 1945 e na Itália, onde eram apenas um pequeno grupo perseguido, ilegal e que tinha sido ameaçado de dissolução pelo Comintern.
De fato, essa cadeia de eventos foi possível porque os comunistas estavam acostumados a viverem em situações extremas de ilegalidade, repressão e guerra, e como “revolucionários profissionais” diferiam dos socialistas e social-democratas que não conseguiam viver na ilegalidade sem suas tradicionais atividades, escolhendo, portanto a via da hibernação. Além disso, seu internacionalismo e apaixonada convicção à causa, possibilitou uma imensurável mobilização de rebeldes com causa.
Os comunistas, no entanto não tomaram o poder em parte alguma, por embora bastante notável sua participação nas Resistências, não estavam em condições para tanto, e além de tudo, como leais a URSS, foram por ela desencorajados a investirem na tomada de poder, a exceção do Bálcãs. Mesmo as revoluções comunistas feitas como na Iugoslávia e Albânia fora contra a vontade de Stálin, pois a política soviética internacional do pós-guerra era de manter um esquema de aliança anti-fascista com uma coexistência, a longo prazo, de sistemas capitalistas e comunistas.
Isso resultava num adeus a revolução mundial. O socialismo se limitaria a URSS e à área destinada por negociação diplomática como sua zona de influência, isto é, basicamente a ocupada pelo Exército Vermelho no fim da guerra. A divisão do globo, ou de uma grande parte dele, em duas zonas de influencia, negociadas em 1944-1945, permaneceu estável. Nenhum dos lados cruzou mais que momentaneamente a linha que os dividiu durante trinta anos. Ambos recuaram do confronto aberto, assegurando assim que as guerras frias jamais se tornariam quentes.

VI
O breve sonho de Stálin, de uma parceria americano-soviética solapou e demonstrou a amplitude da oposição entre capitalismo global e comunismo, ficando evidente que fora uma aliança militar que jamais teria existido sem a série de agressões da Alemanha nazista e a seqüente invasão a URSS, e a declaração de guerra aos EUA. Foi uma guerra de reformadores, corroboradas com a nítida mudança da sociedade para a esquerda onde houve eleições autenticas, a exemplo da Inglaterra, que elegera o Partido Trabalhista derrotando Wisnton Churchill, uma prova de que o eleitorado após a vitória exigira mudanças sociais.
Mudanças de fato fora o que ocorrera nos países europeus no fim da guerra. Aqueles sob o controle do Eixo, agora se reorganizavam em prol de modelos socialistas, comunistas e até mesmo de víeis fascista. Outros retornavam a seu modelo liberal-democrata, mas todos de alguma forma buscavam uma reorganização com uma queda para esquerda predominante. Na verdade, além dos EUA a URSS foi o único país beligerante que a guerra não trouxera nenhuma mudança social e institucional significativa, embora a guerra tenha trazido enorme instabilidade ao sistema. Curiosamente foram os dois países que lideraram o cenário da política internacional no pós-guerra.

VII
Falando numa escala planetária destaca-se a posição do Japão ultranacionalista na Ásia, aliado da Alemanha lutando contras as forças de resistência chineses comunistas, encaravam um papel de defesa dos povos não-brancos frente ao imperialismo dos povos brancos, assumindo para si esse colonialismo. Houve profunda inspiração na América Latina e em toda parte da Ásia e África, incluindo o Oriente Médio. Muitos dos territórios coloniais viram no desmoronar do Império branco a oportunidade de liberdade como jamais se vira anteriormente, no entanto, mesmo com o cenário otimista com o solapar das forças imperialistas e as duas superpotências que não eram amigas do velho colonialismo dominando a política, muitos desses territórios viam como medidas prioritárias a cooperação para a derrota do Eixo através do auxílio a sua respectiva metrópole. As tendências de esquerda eram tamanhas que além dos territórios coloniais elas tiveram influências substanciais em países do mundo islâmico, enquanto, ironicamente, um grupo extremista de judeus fora negociar com a Alemanha a expulsão dos britânicos da região da Palestina.

VIII
Assim a derrota do fascismo deixou pouca saudade, a não ser na Alemanha e no Japão, onde os admiradores haviam lutado com tamanha lealdade. No Japão não mobilzou nada além de uma simpatia temporária pela pele amarela, enquanto na Alemanha, os fiéis do füher ficaram com a lembrança da era dourada e do sonho do grande Reich, mas na verdade o nacional-socialismo deixara lembranças amargas, além de atrapalhar sua adaptação a uma nova vida que sob as potencias ocupantes lhe impuseram suas instituições e costumes e determinaram os caminhos por onde deveriam seguir. Apenas na Itália, o fascismo não desapareceu totalmente, havendo um movimento neofascista que homenageara Mussolini. No geral, ele desapareceu com a crise mundial, no pós-guerra, que lhe permitira surgir, jamais tendo sido um projeto político universal.
No pós-1945, quase todos os Estados rejeitaram a supremacia do mercado e acreditaram na administração e no planejamento da economia pelo Estado. Na verdade avançavam para uma era de milagres econômicos e os governos capitalistas estavam convencidos de que só o intervencionismo econômico podia impedir um retorno às catástrofes econômicas do entre guerras e evitar os perigos políticos de pessoas radicalizadas. Os países do Terceiro Mundo acreditavam que só a ação política podia tirar suas economias do atraso e dependência. A União Soviética e seus seguidores acreditavam no planejamento central e inspiravam a fração do mundo descolonizado.
Eram todas as três regiões do mundo no pós-guerra com a convicção de que a vitória sobre o Eixo, conseguida através de mobilização política e de políticas revolucionárias, além de sangue e ferro, abria uma nova era de transformações sociais. Dessa forma não houve mais um fascismo pra unir contra si, capitalismo e comunismo, e mais uma vez se prepararam para enfrentar um ao outro como inimigos mortais.

4 comentários:

Anônimo disse...

oiiiii...passei para dar um alo...noa li tudo não tá??? muito chato pra mim...hehehe...vou te linkar no meu blog...bjs

Anônimo disse...

foi você que escreveu isso? Vc escreve bem.
Não vou te linkar no meu blog.
Eu não tenho um blog
Abraço

Anônimo disse...

foi você que escreveu isso? Vc escreve bem.
Não vou te linkar no meu blog.
Eu não tenho um blog
Abraço

Anônimo disse...

Muito Bom, estou estudando para prova e tenho muitos textos para ler e não tô com muito tempo,mas este texto que vc postou foi de grande ajuda!