sábado, 31 de maio de 2008

Resenha do Filme "Arquitetura da Destruição"

O filme “Arquitetura da Destruição” do diretor sueco Peter Cohen é ao mesmo tempo chocante e esclarecedor, sendo sem dúvida, a visão de uma pessoa que tem bastante conhecimento e pesquisa sobre o assunto. O longa-metragem tem como pano de fundo de toda a megalomania de Hitler seu irracional desejo de embelezar o mundo, evidente que começando e priorizando o III Reich e expandindo pros territórios que fosse conquistando.
Como Peter Cohen deixa bem claro, é importante destacar que não se trata de um embelezamento superficial, que só contasse com imponentes construções arquitetônicas. O processo era mais longo e mais fundo, desde as artes em geral até a tentativa de uma saúde perfeita e de uma estética irreparável para o povo alemão, incluindo, evidente, o extermínio de judeus.
Hitler e demais membros do governo nazista tinham um grande apreço pela arte, sendo o füher, inclusive um pintor frustrado, algumas de suas gravuras seriam aproveitadas como modelo de projetos arquitetônicos. Sendo a Alemanha um país de homens que aspiravam servir as artes, havia inúmeras manifestações artísticas, como o Dia da Arte e uma instituição de defesa da arte alemã. Hitler fazia questão de anualmente realizar exposições de arte genuinamente alemã, mesmo nos conturbados anos de guerra, onde comprava centenas de obras.
Os discursos de Hitler são um dos exemplos da característica artística de seu governo. Eram a máxima expressão da teatralização, verdadeiros espetáculos encenados, numa visão de que o “comício como o mito do corpo do povo”, era um grande show coreografado com Hitler atuando como diretor, coreógrafo e ator principal, que sem se descuidar de nenhum detalhe, levava a as massas à histeria coletiva a cada frase discursada. Ele transcendia a idéia de política tradicional Hitler abominava as artes modernas, como as vanguardas européias futuristas e dadaístas. Gostava de chamá-las de arte degenerada, associando-as aos bolcheviques e que dizendo que eram instigadas pelos judeus. Ele chegava a realizar exposições de “arte degenerada” paralela as grandes exposições de arte genuinamente alemã, para que a sociedade pudesse compará-las e perceber superioridade da última. Tamanho era o desprezo pela arte moderna que Hitler comparava-a com as deformidades físicas das pessoas.
Era comum a esterilização de doentes físicos e mentais, que eram vistos como indivíduos inferiores a qualquer animal, para que esses não passassem suas “deficiências” hereditariamente para os descendentes, num grande receio de que a população de doentes ultrapassasse a população saudável da Alemanha.
No regime nazista a eutanásia ganha um novo significado, perfeitamente compreendido no filme, e é praticada como arte, ao eliminar o feio e o disforme. Há o crescimento do número de médicos e de cursos de medicina nazista e esta realiza vários progressos, ficando entre as melhores do mundo, com o médico no ambíguo papel de salvar vidas e sentenciar a morte. Para que a Alemanha ficasse livre de deficientes eram feitos testes e extermínios em outros territórios, como a Polônia.
Não se podia deixar a raça sucumbir aos adventos da vida moderna, dizia Hitler. Por isso a saúde era vista como o princípio da beleza, ou seja, os problemas estéticos são também considerados como de saúde. Destaque para a criação do Museu da Vida, onde o médico é o mediador entre a beleza e a saúde.
Como o embelezamento era vinculado diretamente à limpeza, a limpeza do local de trabalho e a limpeza do próprio trabalhador eram imprecindíveis. Sempre com o lema “trabalhadores limpos em lojas limpas”, era uma adequação entre funcionalidade e beleza nas empresas. Dessa forma os nazistas consideravamm que ao garantir ao trabalhador a saúde e a limpeza, libertavam-no de sua condição proletária e, garantiam-lhe dignidade de burguês, eliminando portanto a luta de classes.
É impossível falar do imaginário artístico de Hitler que beirava a loucura sem citar Albert Speer. Seu fiel e oficial arquiteto era o responsável de tornar real todos os megalomaníacos sonhos artísticos. Com ele surgem novos prédios e avenidas para caracterizar o período, e muitos outros não chegaram a sair do papel em virtude do conflito mundial e dos rumos que ele foi tomando.
Eram construções monumetais que desafiavam a física e que superariam em muito todos as criações arquitetônicas até então existentes e que lhe servira de inspiração, como a cúpula da Basílica de São Pedro e o Arco de Truinfo. Ainda incluiam nos planos reformuladores de Hitler, a construção de uma nova Berlim, que seria a capital não só do III Reich, mas também do mundo, e deixaria Paris as suas sombras, baseada num regresso ao belo e até mesmo a superação deste para ultrapassar os desafios do moderno.
O filme apresenta ainda que Hitler tinha uma enorme adimiração e uma fixação irrestrita a antiguidade como um modelo e visionário, inclusive sugerindo que os germânicos teriam os gregos como antepassados. O mundo grego e suas artes eram vistos como o belo, o perfeito e o almejável. Em função de tanta admiração, em 1941, quando a Alemanha invade a Grécia, o füher impede que Atenas seja bombardeada, resguardando dessa forma sua cidade referencial. É também um apreciador de Esparta considerando-a como a nação mais pura e via Roma como o Império mais poderoso.
A política estética de Hitler não podia esquivar-se dos judeus, segmento em que o filme dedica um bom tempo com a perseguição e eliminação dos judeus como parte do processo de purificação, não só da raça, mas de toda a cultura, mostrando o processo de extermínio. Esses eram aludidos a bactérias, tendo que fazer com os judeus o mesmo que se faz com elas, exterminá-los, dando continuidade aos trabalhos de Koch e Pasteur. Esse povo era comparado a um câncer que se alastra.
A propaganda nazista, com os filmes exibidos nesse período funcionando como importante veiculação das ideologias e loucuras nazistas disseminava o ódio para com os judeus como pragas a serem exterminadas como uma questão higiênica, de saúde pública, da mesma forma que os insetos eram eliminados, através dos inseticidas (criados na época e utilizados nas câmaras de extermínio). O genocídio dessa forma atingiria um modo mais higiênico, gentil e delicado que os fuzilamentos.
Conforme o longa-metragem mostra, fora feito um saneamento antropológico em nome da beleza, da estética e da pureza, encontrando os planos de Hitler, para seu maior desempenho e para o horror para a humanidade, pelo caminho as câmaras de gás. A estética, cuja valorização é importante lembrar que estava presente nos padrões culturais europeus, também é vista como a força motora do Nazismo, dentro do seu ideal de embelezamento do mundo, nem que para pô-lo em prática, antes tivesse que antes destruí-lo. E foi isso que Hitler começou a fazer.
Ficha Técnica:
Título Original:
Arquitetura da Destruição
País de Origem: Suécia, 1992
Duração: 121 minutos
Diretor: Peter Cohen
Narração: Bruno Ganz

2 comentários:

Neide Kocca disse...

Muito bem redigida essa resenha, uma das melhores que li. Aborda as principais questões apresentadas no documentário.Eu assisti e achei sua resenha bem coerente.Parabéns.

Unknown disse...

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